Translate

segunda-feira, 4 de março de 2013

Filologia

A fogueira medieval do século 21
Como antigos dicionários refletem os valores de uma comunidade
Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida

Foi sob o argumento de que o riso libera e desvia as pessoas do medo, que Jorge de Burgos - o monge assassino de O Nome da Rosa, romance de Umberto Eco ambientado no século 14 - envenenou as páginas do segundo livro da Poética de Aristóteles, com o propósito de matar quem o lesse. É que sem o medo não se teme o pecado, nem a morte, nem o inferno, nem o diabo.

Parece ser receita simples e prática, na ficção ou na vida real: destrói-se, deleta-se, proíbe-se, recolhe-se aquilo que parece ser contrário à manutenção do status que se pretende harmônico ou, como é da moda, politicamente correto.  Foi dessa pretensão, dentre outras coisas, que veio a ordem, quase inquisitória, para que o Houaiss fosse desemprateleirado.

Noutros tempos, "cigano", que era escrito com s, correspondia, em latim, a aegyptius (egípcio) e tinha, como derivado, o substantivo "siganice", que, na versão latina, era insinuatio (insinuante). Assim está registrado no Thesouro da Lingoa Portuguesa (1647), composto pelo padre jesuíta Bento Pereira (1605-1681). Trata-se de uma rara e reconhecida fonte de referência dentro da história lexicográfica da nossa língua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário